A semana no noticiário político brasileiro foi intensa. Na segunda feira dia 08/03/2020 o Ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin decidiu que a 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba não era competente para julgar Lula no processo que ele foi condenado pelo então juiz Sergio Moro. A notícia de imediato já provocou alarme na imprensa e no “mercado financeiro”. Lula a partir de então voltava a ser elegível.
A interpretação que cresceu nos momentos após a notícia foi a de que Fachin, visando proteger a Lava Jato, declarou que a Vara de Curitiba não podia julgar aqueles casos porque eles não tinham ligação direta com a Petrobrás. Os casos serão remetidos para a 10 ª ou 12ª Vara da Justiça no Distrito Federal. Fachin disse ainda que todos os casos referentes a esse processo ficariam então nulos. Acontece que Gilmar Mendes tinha pedido vistas há dois anos de um processo em que a defesa de Lula pedia a suspeição do então Juiz Sergio Moro. Gilmar Mendes não acatou a ordem de Fachin e resolveu pautar na segunda turma aquele caso então engavetado. Surpreendeu ao pautar, mas não tanto ao votar. Gilmar já vinha tecendo críticas fortes a atuação dos procuradores e do juiz que agiram sitiados em Curitiba. Mas proferiu um voto forte, apontando falhas na instrução processual, comparando os procuradores de Curitiba a procuradores soviéticos, demonstrando o quão absurdo é em uma democracia mandar grampear escritório de advocacia. Gilmar jogou cal no túmulo de Moro e dos procuradores.
A querela no STF foi interrompida por mais um pedido de vistas, dessa vez do novo Ministro Kassio Nunes Marques, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro. Faltava ainda a manifestação do principal interessado em torno da decisão e dos votos de ontem na segunda turma do STF: o ex presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Lula é apegado as simbologias. Sempre que precisa falar aos brasileiros ou fazer algo que terá a repercussão da mídia procura refúgio no Sindicado dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Foi lá que Lula emergiu para a política como líder sindical. Foi lá também que ele decidiu se entregar para a custódia da Polícia Federal. E foi lá que fez seu primeiro discurso depois da sentença proferida por Fachin. E não foi apenas um discurso, foi um pronunciamento.
O ex presidente começou agradecendo todos aqueles que o apoiaram nos dias que ficou preso: os advogados, o Partido dos Trabalhadores, a militância organizada do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, as pessoas que acamparam em frente a sede da PF em Curitiba nos mais de 500 dias em que ficou preso. Em seguida fez críticas a Lava Jato, as críticas que já conhecemos e que foram confirmadas pela decisão de Fachin e pelo voto de Gilmar. Não falou muito sobre. Disse não guardar magoas. Sofreu enquanto esteve preso mas não consegue comparar ao sofrimento dos brasileiros que hoje passam dificuldade. Não ficou preso nesse assunto, foi em frente.
Continuou os agradecimentos e dessa vez a lista de nomes era grande. Começando com lideranças e artistas brasileiros e seguindo com nomes de líderes internacionais que se manifestaram a seu favor. A prefeita de Paris Anne Hidalgo, o presidente da Argentina Alberto Fernandez, o papa Francisco, entre muitos outros nomes que vou me furtar de citar. O que importa nessa parte de discurso é que o ex presidente Lula marcou um território de diferença entre ele e o atual presidente da república: Lula tem aliados internacionais, Bolsonaro não.
Na sequência do discurso, de maneira muito sutil, o ex presidente conseguiu acenar para várias forças políticas organizadas e não organizadas. Falou sobre os militares do exército e da polícia, afirmando que a população não precisa de armas mas eles precisam. “Não se pode combater a criminalidade com um 38 velho”. Acenou ainda para a Rede Globo, elogiando a repercussão que a televisão deu para a decisão de Fachin e o voto de Gilmar. Na sequencia também teve aceno para a comunidade evangélica e para os empresários com quem disse que quer “dialogar”.
Diálogo foi a tônica do pronunciamento. Luiz Inácio Lula da Silva está disposto a dialogar com todos. Foi o que deu a entender. E se tratando de Lula sabemos que vai buscar interlocuções com bancos, mercado financeiro, neopentecostais e militares. Mas, como nem só de “conversa” vive um político, Lula precisava contrapor o atual governo. Nessa parte do pronunciamento tocou em todos os pontos importantes que estão na pauta do dia: criticou o negacionismo do presidente Bolsonaro, a falta de ação do governo na compra de vacinas e na liderança da gestão da pandemia, pontuou que precisamos de política econômica para combater o desemprego, fomentar o consumo e controlar a taxa cambial.
Lula acenou hoje para a maior parte das forças políticas brasileiras que não são como Bolsonaro. Acenou para as Forças Armadas, para a Globo, os evangélicos e empresários. Ao mesmo tempo acenou para os trabalhadores, os informais e os desempregados. Lula hoje se mostrou como alternativa. Bateu no peito e disse: “a frente ampla sou eu”.
Daqui pra frente muita coisa ainda vai acontecer. Não se pode esquecer que quem está no poder é Bolsonaro. Mas, podemos afirmar sem sombra de dúvidas que o velho sapo barbudo não está morto. Não está morto e vêm com força para a próxima corrida eleitoral.
Hoje, boa parte das liderança políticas — de direita e de esquerda- vão dormir menores.
Os 2 são HORRIVEIs.
Eu sou um bolinho de arroz DE ARROZ.