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por Marcos Manoel Ferreira, especial para o LiceuOnline.

Na rudeza da vida, a coragem do brasileiro probo e que labuta, faz de sua via crúcis um calvário diário. A resiliência dos indigentes, que resignados, carregam a escória improdutiva do país, sob o açoite da Casa Grande e a avareza do chicote dos ordinários.

No clássico Os Sertões, o pré-modernista Euclides da Cunha, afirmou que O sertanejo é, antes de tudo, um forte.” E ainda frente ao infindável ardor da luta desigual, peita o infortúnio com bravura e a persistência dos vencedores. Astutos por natureza, otimistas por religiosidade e o humor nato que dribla o óbito como em Ariano Suassuna.

Em cada rincão um ataúde farto, largo, para ossos tão frágeis e tão escassa carne. Vivência que a inanição ceifou em searas de misérias, latifúndios de mendicância, tribunais de injustiças e banquetes de indiferenças. Um eviterno “Doer, que dói sempre. Só não dói depois de morto. Porque a vida toda é um doer”, afirmou Rachel de Queiroz. Como em Vidas Secas e os desafios da sobrevivência de Fabiano e sua prole, a cadela Baleia tratada como gente, dramaticamente descrita pelo sertanista e também modernista Graciliano Ramos.

Terra as quais quem planta não tem direito a comer, quem paga não pode usufruir, quem trabalha vegeta sob olhares famintos e definha a míngua. A aridez e o sol escaldante, a metamorfose kafkiana da água que esculpiu argila, a aridez da caatinga e a beleza do Mandacaru em flor! Resistente como a Jurema que para não perder água, perde suas folhas durante as longas estiagens.

A saga e o suplício de escanzelados retirantes, imortalizado nas obras do “menino de Brodowski Cândido Portinari. As mazelas de um povo e suas dores em Morte vida Severina, na Ode de João Cabral de Mello Neto. Os tormentos da grande seca de 1915, Rachel de Queiroz em seu romance O Quinze, descreveu com mestria, que marcou sua infância e revelou a resistência do sertanejo. Aqui, na mais tenra idade, aprende-se a duras penas que “A lembrança só dói quando fresca. Depois de curtida é um consolo.”

Ante ao senhor e seus capatazes, o rubro suor, vai procriando a fortuna de minorias, que negam até o pão a quem lhes sustentam, sob a égide da exploração da brutal luta de classes. As migalhas aos indigentes, o desprezo aos zumbis favelados, em “condomíniosde dálitis sob pontes e viadutos. Os quilombos de ontem, os mocambos e quartos de despejo de hoje! Um campo santo em cada canto, uma cova rosa ou vala comum, para quem lutou e morreu pela terra.Viver é negócio muito perigoso…”, Grande Sertão: Veredas do genial Guimarães Rosa. O “fim da mamata”, a “nova política” e o flerte com a morte, faz parecer ficção científica, com os matizes do surrealismo de Dalí. O homem precisa da arte, para não morrer no infortúnio da realidade.

Os odiosos e infames, armados de chocolates dinamarqueses sabor laranja, arautos das rachadinhas, conluio com milicianos e Deus como cabo eleitoral, zurram uma moral hipócrita pelo mundo, abrindo caminho para o apocalipse democrático. Parindo uma legião de cúmplices e néscios, que sob bandeiras da bestialidade, banalizando a violência, disseminando o ódio e contribuindo para o grande rebu nacional, pautado no negacionismo histórico e científico, constrangedor! O infortúnio dos indigentes que fomentam o Estado e vítimas

da corrupção intrínseca, mendigando piedade e compaixão de quem os odeiam. E no silêncio mórbido do eleitor acéfalo, a certeza do também pré-modernista Lima Barreto, quando afirmou, “O Brasil não tem povo, tem público.” Que no grande e patético espetáculo circense que reduziu a uma republiqueta de bananas, os aplausos da covardia, omissão e estupidez galopante.

O silêncio mordaz da indiferença e as injustiças sociais evisceram as mazelas do país e escancara vergonhosamente, a cumplicidade de quem deveria combatê-las. Togas, fardas e pompas, justiceiros e omissos, a serviço de quem paga mais. Os podres poderes do Estado, harmônicos e letárgicos, zelando do corporativo umbigo, legislando em causa própria, numa ardilosa conspiração contra o povo! A Camorra governamental e o lobby armamentista, para delírio dos amantes secretos freudianos, que fazem do fisiologismo sustentação ideológica, transformando o país inteiro em um salseiro de corpos insepultos e com a bíblia debaixo do braço.

Sob o comando de roedores públicos, rebentos do randevu nacional, gente graúda de cafetão e beleguins nativos como prostitutas de luxo. Calígula, imperador romano (12 – 41) sentiria orgulho do quanto suas práticas políticas e administrativas, foram tão bem assimiladas por seus contemporâneos, sem anacronismos.

Portanto, o eleitor que exala informação fake, na hora do pleito, fiel deficitário de formação crítica e conhecimento político, no silêncio ruidoso de pastos verdejantes. Se o Brasil não é para amadores, realmente, não poderíamos estar em melhores mãos, ou patas.

Sobre o(a) Autor(a)

Marcos Manoel Ferreira

Professor, Pedagogo, Historiador, Escritor. Pedagogo com Habilitação em História da Educação Brasileira; Historiador; Especialista em História e Cultura Afro-brasileira e Africana e Mestre em História – Cultura, Religião e Sociedade. [email protected]
Publicado no Liceu Online por:

Edição - Liceu Online

Revista online de Humanidades. @liceuonline

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