Depois de explorar o desejo em grande parte de sua filmografia, o cineasta Luca Guadagnino agora quer falar de assédio sexual, cultura do cancelamento e choque de gerações, entre outros temas, de uma maneira aparentemente imparcial e equidistante de seus protagonistas, mas também um tanto fria e verborrágica. Se o êxito nessa empreitada é parcial, me parece que a culpa é primordialmente do roteiro, assinado pela estreante Nora Garrett. Soa paradoxal que todos os personagens tenham agendas ocultas e zonas cinzentas, mas por outro lado a trama abrace clichês como o da protagonista que tem um trauma do passado que espelha a situação presente de outra figura, e da aula que é exatamente sobre o tema do filme – sem contar o longo prólogo que demora a mostrar a que veio. Ainda assim, Guadagnino continua sendo um ótimo diretor de atores, extraindo excelentes desempenhos principalmente de Julia Roberts, que há anos não tinha um papel que lhe exigisse tanto e que a atriz abraçasse em igual medida. Porém, o epílogo cínico resolve a trama com panos quentes, como se, de um lado, o abuso fosse uma nota de rodapé irrelevante e superável, e, de outro, como se todo cancelamento fosse apenas uma questão de tempo e pudesse ser esquecido ou minimizado. É interessante que Guadagnino continue inquieto e não tenha receio de abordar temas espinhosos. Falta só polir melhor o roteiro do projeto escolhido.
Nota: 2,5/5
Imagem de capa: nytimes









