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por João Paulo Capelotti, especial para o LiceuOnline.

Paul Thomas Anderson ainda não errou. O diretor tem uma filmografia impecável, que vai do romance (“Trama fantasma”) ao filme de amadurecimento (“Licorice Pizza”) e passa por ensaios mais profundos sobre a alma sombria dos Estados Unidos, como “O mestre” e “Sangue negro”. Aqui ele adapta mais uma vez um romance do escritor Thomas Pynchon, a exemplo do que fez em “Vício inerente”. Se essa outra obra era centrada num detetive cuja investigação era atrapalhada pelo fato de ele estar sempre chapado, em “Uma batalha após a outra” o papel central, a cargo de Leonardo DiCaprio, é de um guerrilheiro cuja missão de salvar a própria filha também é prejudicada pelos mesmos motivos. Mas os filmes não poderiam ser mais diferentes. Se “Vício inerente” era uma subversão do filme de detetive lógico e encadeado, “Uma batalha após a outra” é uma subversão dos filmes de ação. Há perseguições de carro e a pé, todas muito bem encenadas, tiroteios e sociedades secretas que movem a trama, mas ao contrário da maioria dos filmes do gênero as questões políticas não são simplistas nem varridas pra baixo do tapete – na verdade, ocupam aqui posição central. Anderson fala de polarização política, imigração, racismo, entre outros temas da ordem do dia, mas nunca de maneira ingênua ou maçante. Na verdade, o diretor e roteirista, a exemplo do que sempre faz, espalha defeitos em todos os seus personagens, que são todos ambíguos, mentirosos e, em grande medida, patéticos, perdidos em seus próprios vícios e, talvez por isso mesmo, muito empáticos (além de serem defendidos por um elenco impecável). Anderson ri e nos faz rir deles, imprimindo um certo tom de sátira, que no fim é mesmo o mais pertinente para mostrar o absurdo e a insanidade do que estamos fazendo como sociedade. Ainda assim, é bonito que o filme não seja niilista e sustente haver espaço para esperança de dias melhores.

Nota: 5/5.

 

 

Imagem: divulgação/ Plano Crítico. 

Sobre o(a) Autor(a)

João Paulo Capelotti

É advogado e pesquisador, e gosta de cinema desde que se entende por gente.
Publicado no Liceu Online por:

Edição - Liceu Online

Revista online de Humanidades. @liceuonline

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