“Invocação do Mal”, lançado em 2013, foi uma grata surpresa que provou o talento do diretor James Wan para um terror mais convencional e classudo, depois de sua revelação com “Jogos Mortais” em 2004. Com o sucesso de público e crítica, não demorou para que a longa carreira de Ed e Lorraine Warren no campo da paranormalidade virasse uma franquia. O próprio Wan dirigiu o segundo capítulo (2016), inferior ao primeiro mas ainda decente. Quando o bastão passou a Michael Chaves, para o terceiro filme (2021), a coisa degringolou de vez. A essa altura uma série de spin-offs da boneca Annabelle e da freira malévola já haviam sido lançados em escala industrial, mas com resultados pífios do ponto de vista artístico. Pois agora, para o quarto e, supõe-se, final episódio dos Warren, Chaves retorna com mais uma obra apenas não pior que o terceiro “Invocação do Mal”. Os problemas já começam no roteiro, escrito a seis mãos, que sofre para conectar o caso a ser solucionado com um trauma do passado do casal. Vera Farmiga e Patrick Wilson, dois bons atores, se esforçam para dar algum estofo aos momentos dramáticos e românticos que, no fim, são apenas cafonas e mal escritos (o resto do elenco não tem a mesma sorte). Mas isso até estaria perdoado se o cerne do filme, o terror, funcionasse bem. Mas o diretor não sabe criar tensão, telegrafando os sustos e dependendo da trilha sonora burocrática de Benjamin Wallfisch. Pior de tudo, ele acha que seria uma boa ideia mostrar bastante, até em close-ups, os fantasmas e capetas num CGI muito tosco. Quando o filme parece que finalmente vai engrenar no confronto final, depois de mais de hora e meia de enrolação, uma Annabelle gigante e ridícula sepulta qualquer chance de algo parecido com medo no espectador. Ficam diluídos os raros momentos bons, como a breve cena na lavanderia do porão, quando podemos ver uma figura bem sutil nas sombras, e a morte de um coadjuvante importante durante uma visita ao bispo. No fim, as imagens reais de Ed e Lorraine, durante os créditos, deixam uma sensação de oportunidade perdida: o casal era mesmo carismático, e a possibilidade de ser trambiqueiro (aventada numa série em exibição no streaming) poderia render um ótimo roteiro que se dignasse a explorar isso. Porém, o encerramento da franquia não poderia estar mais longe de algo satisfatório. É pra exorcizar mesmo.
Nota:1,5/5
Foto: Divulgação/Warner Bros.